Uma pérola de João Gilberto

‘Estate’, a canção italiana descoberta pelo ícone da bossa nova, que virou um standard do jazz internacional.

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readAug 14, 2021

Um belo dia, em 1963, João Gilberto, ao se apresentar no Bussoloto, casa de espetáculos em Viareggio, no sul da Itália, dividiu a cena com o compositor e pianista Bruno Martino, que cantou Estate (Verão), de sua autoria. João ficou siderado pela beleza da canção. Os dois tomaram um drinque, o brasileiro aprendeu a música, copiou o texto e prometeu gravá-la. A letra, de Bruno Brighetti, fala da saudade de um amor de verão, com versos como Odeio o verão / Que é quente como os beijos que perdi / Que é pleno de um amor que já passou / E que meu coração quer esquecer // Odeio o verão / O sol que todo dia nos aquecia / Que esplêndidos crepúsculos pintava / E agora apenas queima com furor … Lá-ra-li, lá-ra-rá.

Como acontece com certa frequência, os versos — embora até jeitosos — não estão à altura da belíssima melodia. Na Itália, há um gênero musical de verão e Estate soava como uma canção napolitana qualquer, sem muito sucesso. Mas o ouvido absoluto de João percebeu a pérola na ostra.

Ele gravou em italiano uma versão personalíssima, valorizando, como só ele sabe fazer, as modulações harmônicas (álbum Amoroso, 1977). E ainda mexeu na letra, podando o estribilho cafona Odio l’estate (Odeio o verão), deixando apenas o substantivo seco — Verão — com muito melhor efeito dramático.

A composição da dupla Martino-Breghetti, na magistral interpretação de João Gilberto, ganhou o mundo e foi gravada por gente do primeiríssimo time do jazz, como Chet Baker, Shirley Horn e Toots Thielemans.

Ouçam Estate no registro do show de João Gilberto, no Palace São Paulo, em 13 de abril de 1994:

www.youtube.com/watch?v=p4DK-KPxrBc

E porque hoje é sábado, vai uma faixa bônus: a versão em esloveno, na voz cálida da bela e talentosa Nina Strnad, com a orquestra Gimnazija Kranj Sypmhony, tendo Igor Matković no trompete:

www.youtube.com/watch?v=ZNct3-wBy6A

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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