Uma pérola de João Gilberto
‘Estate’, a canção italiana descoberta pelo ícone da bossa nova, que virou um standard do jazz internacional.
Um belo dia, em 1963, João Gilberto, ao se apresentar no Bussoloto, casa de espetáculos em Viareggio, no sul da Itália, dividiu a cena com o compositor e pianista Bruno Martino, que cantou Estate (Verão), de sua autoria. João ficou siderado pela beleza da canção. Os dois tomaram um drinque, o brasileiro aprendeu a música, copiou o texto e prometeu gravá-la. A letra, de Bruno Brighetti, fala da saudade de um amor de verão, com versos como Odeio o verão / Que é quente como os beijos que perdi / Que é pleno de um amor que já passou / E que meu coração quer esquecer // Odeio o verão / O sol que todo dia nos aquecia / Que esplêndidos crepúsculos pintava / E agora apenas queima com furor … Lá-ra-li, lá-ra-rá.
Como acontece com certa frequência, os versos — embora até jeitosos — não estão à altura da belíssima melodia. Na Itália, há um gênero musical de verão e Estate soava como uma canção napolitana qualquer, sem muito sucesso. Mas o ouvido absoluto de João percebeu a pérola na ostra.
Ele gravou em italiano uma versão personalíssima, valorizando, como só ele sabe fazer, as modulações harmônicas (álbum Amoroso, 1977). E ainda mexeu na letra, podando o estribilho cafona Odio l’estate (Odeio o verão), deixando apenas o substantivo seco — Verão — com muito melhor efeito dramático.
A composição da dupla Martino-Breghetti, na magistral interpretação de João Gilberto, ganhou o mundo e foi gravada por gente do primeiríssimo time do jazz, como Chet Baker, Shirley Horn e Toots Thielemans.
Ouçam Estate no registro do show de João Gilberto, no Palace São Paulo, em 13 de abril de 1994:
www.youtube.com/watch?v=p4DK-KPxrBc
E porque hoje é sábado, vai uma faixa bônus: a versão em esloveno, na voz cálida da bela e talentosa Nina Strnad, com a orquestra Gimnazija Kranj Sypmhony, tendo Igor Matković no trompete: