Uma noite na biblioteca

As estantes ganhavam vida e os personagens saíam dos livros nas noites silenciosas da biblioteca pública

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
1 min readJun 8, 2023

Narizinho, Lolita, Alice e Holden Caulfield brincam de esconde-esconde entre as prateleiras. Recostado num dicionário, D’Artagnan ouve sonolento Sherazade, enquanto Athos, Porthos e Aramis disputam o amor de Capitu, sob o olhar enfurecido de Scarllet O’Hara. O capitão Ahab marcha pra lá e pra cá com sua perna manca, falando sozinho. Jean Valjean escuta Clara dos Anjos desfiar seus infortúnios. Édipo olha embevecido Pélagué Nilovna distribuindo panfletos de estante por estante. Pendurado numa fita marca-página, Tarzan tenta raptar Emma Bovary, mas é atrapalhado por Macunaíma. Riobaldo Tatarana parte pra cima de D. Juan, que seduzia Diadorim. Aproveitando a confusão, Raskolnikov mata Ana Karenina e foge. Sherlock Holmes chega para investigar o crime. Trava-se uma discussão generalizada e Dom Quixote, supondo tratar-se do alarido de exércitos inimigos, ataca todo mundo de lança em punho.

Era nesse mundo trepidante, colorido, emocionante que ele se refugiava do cotidiano cinzento, monótono e desesperançado.

[Trecho do meu próximo romance, cujo título provisório é Zelda — A arte da fuga triunfal.]

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Written by BLOGUE DE HOMERO FONSECA

Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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