Uma estreia n’ O Pasquim

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readJan 15, 2025

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Foi aí que o camarada publicou seu primeiro texto. Apenas.

Em 1974, quando tinha 22 anos, Geraldo Sobreira estudava Ciências Sociais e precisava ganhar a vida, no Recife, onde então morava. Estava casado, tinha um filho pequeno e outra a caminho. Procurava algo melhor que os empregos precários disponíveis.

Aconselhado pelo amigo RAL, exímio cartunista falecido ano passado, escreveu uns aforismos salpicados de humor e mandou para O Pasquim, sensação da imprensa brasileira nos anos 1970.

Mandou 12 frases, publicadas na íntegra na coluna Picles. Foi o primeiro texto seu pelo qual recebeu uma remuneração. A partir daí seguiu uma exitosa carreira jornalística. Isso faz 51 anos hoje.

O Pasquim, nº 237, 15 a 21 de janeiro de 1974.

PICLES

Era um homem de ouro, a mulher tinha os nervos de aço. Mas nem chegaram às bodas de prata.

Era um homem de ideias. Por isso, fez sua mulher perder a cabeça.

Confusão de parentesco: a mãe da indústria é a matéria prima.

Estava sempre a provocar tempestades. Era um cabeça de vento.

Lia com avidez o novo e o velho testamento: sonhava com heranças.

Era um homem de peito. Por isso, vivia envergonhado.

Procurava sempre em vão compreender sua incompreensão.

Falava de si próprio com muita propriedade, o latifundiário.

Está sempre a encher os outros. Pois é muito cheio de si.

A bomba de Hidrogênio espera a de Oxigênio pra inaugurar a Era de Aquarius.

Na queda, perdeu toda a gravidade.

Indigesto é engolir desaforo por razões de estômago.

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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