“Socorro, Estado! Me acuda!”

A retórica ultraliberal não resiste a um ensaio de crise no sistema financeiro.

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
3 min readMar 21, 2023
O desenho é pra quem tem dificuldade de entender

Carta aos banqueiros

Por Jamil Chade — UOL — 19/03/2023

(…) Não aceito e nem gosto de generalizações. Mas há um aspecto que nunca consegui entender: afinal, vocês são ou não liberais?

Pergunto isso por conta dos eventos dos últimos dias, envolvendo o Credit Suisse, mas também outros bancos nas economias ditas “maduras”.

Nos EUA, na semana passada, o Federal Reserve indicou que fez empréstimos de US$ 300 bilhões para bancos com problema de caixa. Só aqui na Suíça, a instituição financeira que vivia dias difíceis recebeu um socorro de US$ 50 bilhões, o que seria o suficiente para a ONU sair ao resgate de 230 milhões de pessoas em crises humanitárias pelo mundo durante um ano.

Claro, não há como deixar um banco dessa dimensão quebrar. São bancos classificados como “grande demais para quebrar”. Ou seja, se forem à falência, é a economia inteira que sucumbe.

Mas me pergunto: não são vocês aqueles que votam em políticos que defendem o estado mínimo, pouca regulação, redução de impostos para grandes fortunas, privatização e abertura de mercados?

Não são vocês que insistem na tese da meritocracia, como uma religião que abandona quem não serve ao sistema? Eu também gostaria de ser classificado como “grande demais para quebrar”.

Milhões de pessoas também gostariam de viver uma vida na qual poderiam ser generosamente resgatadas se escorregassem na administração de seu destino. Ou aqueles que sequer sonham em ter um destino e optam por sonhar em dar comida a seus filhos.

Mas, para eles, os mercados ficam tensos se há alguma sugestão de mais dinheiro. Talvez vocês não se lembrem. Mas da última vez em que o sistema financeiro derreteu em 2008, governos vieram ao socorro de vocês.

Para isso, usaram recursos de aposentados, da classe média e o sonho de famílias inteiras. Para arcar com a dívida de salvar em parte seus bancos, governos fizeram verdadeiras políticas de austeridade que mataram sonhos e pessoas.

Vocês certamente não são os únicos responsáveis. Autoridades viveram empurrando as dívidas para o ano seguinte, certos de que nada aconteceria. Mas aconteceu.

(…) Insisto: vocês não foram os únicos responsáveis. Mas sabe qual foi resultado da crise financeira, do resgate dos governos e da explosão da dívida? O desmonte de parte do estado de bem-estar social, a descrença na classe política, a dúvida sobre a capacidade de a democracia dar respostas e a explosão da extrema direita, charlatães e populistas.

(…) Mais de uma década depois, aqui estamos de novo falando em salvar bancos. E eu continuo me perguntando: e quando salvaremos gente?

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Esses são trechos do artigo do correspondente internacional. A íntegra está aqui:

Carta aos banqueiros: quem pagará para vocês serem resgatados agora? (uol.com.br)

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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