“Rosa” é um regalo

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readJun 26, 2021

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Se Pixinguinha for o Pelé da música popular brasileira, “Rosa” é seu mais belo gol.

Desconfio que “Rosa”, de Pixinguinha, é a mais linda melodia da música popular brasileira. Se não for, está entre as mais mais. Composta em 1917, inicialmente era apenas instrumental, gravada com o compositor solando na flauta transversa. Reza a lenda que 20 anos depois, ou seja, em 1937, Otávio de Souza, um mecânico, com o macacão sujo de graxa, abordou o compositor num bar e entregou-lhe uma letra, rabiscada a lápis numa folha de papel almaço. O maestro e sua turma gostaram e logo a valsa-choro seria gravada por Orlando Silva, com sucesso imediato. Também pudera! Os versos são uma coleção de clichês românticos que resultam belos pelo radicalismo levado ao absurdo. Bem ao gosto do Brasil beletrista da época. E tome: “divina e graciosa, estátua majestosa do amor por Deus esculturada” e “ teu coração junto ao meu lanceado, pregado e crucificado sobre a rósea cruz do arfante peito teu” e por aí vai. Hoje soa até comovente pela ingenuidade pedante.

Mas a música, melódica e harmonicamente de uma delicadeza perdida, ainda é um regalo para esses sábados sombrios. Vai aí a bela versão de 2015 do grupo vocal carioca Ordinarius, formado por Augusto Ordine (maestro e arranjador), André Miranda, Letícia Carvalho, Luiza Sales, Maíra Martins e Marcelo Saboya. O clipe tem uma qualidade profissional notável, em termos de conceito, cenografia despojada, direção, iluminação etc.

www.youtube.com/watch?v=eZQEuayqIOo

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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