Pai e filho no ringue

E pensar que ele era um espermatozoide tão lépido e fagueiro!

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readFeb 2, 2024

Domingo, anos 80. O pestinha tinha seus 10 anos. O pai havia combinado apanhá-lo na casa da mãe, às 15 horas, para irem ao cinema. O filme era um daquela série com o boxeador Rocky Balboa, na interpretação canastrona de Silvester Stallone. Seguiam de táxi e, no meio do caminho, na tentativa de entabular uma conversa, o pai perguntou:

— Esse Rocky é um lutador, né?

A resposta veio naquele tom de ironia fulminante que os fedelhos sabem usar melhor do que ninguém.

— Naaaaaão. É um tocador de punheta.

Corta para 30 e tantos anos depois.

O ex-pirralho, agora quarentão, foi derrubado pela dengue. Preocupado, o pai liga pra saber de notícias. Ouve que o sujeito tinha penado com a doença, mas o pior já passara. À noite passada conseguira dormir, os sintomas diminuíram e todo aquele relatório dos doentes. Então, tentando desanuviar, brinca:

— Então já dá pra tocar uma punheta?

Ao invés da risada que esperava, um silêncio brochante. Esperou um pouco por uma resposta retardada. Nada. Silêncio e nada mais. Meio desconcertado, o pai arriscou:

— Não vai rir?

— Não. Não teve a menor graça.

O pai se mancou: também querer que o cara com dengue esteja de bom humor já é demais, né? Mas, quando desligou, lembrou do poema de Vinicius de Moraes:

Filhos, filhos? Melhor não tê-los.

Mas se não os temos

Como sabê-los?

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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