Pai e filho no ringue
E pensar que ele era um espermatozoide tão lépido e fagueiro!
Domingo, anos 80. O pestinha tinha seus 10 anos. O pai havia combinado apanhá-lo na casa da mãe, às 15 horas, para irem ao cinema. O filme era um daquela série com o boxeador Rocky Balboa, na interpretação canastrona de Silvester Stallone. Seguiam de táxi e, no meio do caminho, na tentativa de entabular uma conversa, o pai perguntou:
— Esse Rocky é um lutador, né?
A resposta veio naquele tom de ironia fulminante que os fedelhos sabem usar melhor do que ninguém.
— Naaaaaão. É um tocador de punheta.
Corta para 30 e tantos anos depois.
O ex-pirralho, agora quarentão, foi derrubado pela dengue. Preocupado, o pai liga pra saber de notícias. Ouve que o sujeito tinha penado com a doença, mas o pior já passara. À noite passada conseguira dormir, os sintomas diminuíram e todo aquele relatório dos doentes. Então, tentando desanuviar, brinca:
— Então já dá pra tocar uma punheta?
Ao invés da risada que esperava, um silêncio brochante. Esperou um pouco por uma resposta retardada. Nada. Silêncio e nada mais. Meio desconcertado, o pai arriscou:
— Não vai rir?
— Não. Não teve a menor graça.
O pai se mancou: também querer que o cara com dengue esteja de bom humor já é demais, né? Mas, quando desligou, lembrou do poema de Vinicius de Moraes:
Filhos, filhos? Melhor não tê-los.
Mas se não os temos
Como sabê-los?