PABLO, PRESENTE
Pablo Milanés, morto aos 79 anos esta semana, era um dos grandes nomes da Nueva Trova, o movimento de canções de inspiração política brotado em Cuba nos anos 1960, após a Revolução. Ao lado de Sílvio Rodriguez, era um dos expoentes da turma.
Militante de esquerda, criticava porém os caminhos da Revolução. Em 1999, ele compôs “Días de glória”, em que lamenta: “O que é que me resta daquela manhã, desses doces anos, se em ira e desengano deixamos partir os dias de glória?” A questão seria abordada mais diretamente numa entrevista ao jornal espanhol El País, em 2015, em que disse se considerar frustrado pelas promessas não cumpridas pela Revolução e acrescentou: “Antes de 1966, Cuba se alinhou definitivamente à política soviética, incluindo procedimentos stalinistas que prejudicaram intelectuais, artistas, músicos”. Explicou, entretanto, porque permanecia revolucionário: “Os ideais que professávamos eram os mais puros que se podiam ter naquela época. Outra coisa teria sido trair meu pensamento, e então, embora se tenham cometido erros, vi que era preciso defender a ideia original… e ainda a defendo.”[1]
No decorrer de sua longa carreira, gravou 54 discos e se tornou conhecido internacionalmente.
Sua canção mais famosa é a balada romântica “Yolanda” (1970), composta em homenagem à sua primeira mulher, Yolanda Benet. No Brasil, a canção foi traduzida por Chico Buarque e gravada por Simone, Ney Matogrosso e o próprio Chico, entre outros.
Porque hoje é sábado, ouçamos a bela versão de sua filha, Haydée Milanês, em dueto com a grande dama da canção cubana, Omara Portuondo:
www.youtube.com/watch?v=XnaNSpofNTI
A letra, pra quem quiser cantar junto:
Esto no puede ser no mas que una canción
Quisiera fuera una declaración de amor
Romantica sin reparar en formas tales
Que ponga freno a lo que siento ahora a raudales
Te amo
Te amo
Eternamente te amo
Si me faltaras no voy a morirme
Si he de morir quiero que sea contigo
Mi soledad se siente acompañada
Por eso a veces se que necesito
Tu mano
Tu mano
Eternamente tu mano
Cuando te vi sabia que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores
De amores
Eternamente de amores
Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Eternamente Yolanda
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[1] EL PAIS: Pablo Milanés: “A abertura cubana é uma maquiagem”, por Mauricio Vicent, 21/02/2015.