Os perigos das armas químicas e biológicas

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
3 min readApr 13, 2020

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Estava a ler livro de memórias de um consagrado jornalista americano quando me deparo com informações relevantes sobre sobre a produção de armas químicas e biológicas nos EUA (final dos anos 60).

Por Seymour Hersh

(Trecho do livro Repórter — Memórias, Editora Todavia, 2019.)

“Passei boa parte dos dois meses seguintes na estrada, visitando militares aposentados, assim como as pequenas cidades em que havia laboratórios e centros de produção secretos de CBW — Chemical Biological Weapon ou Warfare [armas de guerra químicas e biológicas]. (…) Fiquei sabendo sobre mortes não registradas de funcionários dos laboratórios e de garotos de entrega que tinham entrado no laboratório errado na hora errada. Também fui informado que animais infectados com as doenças mais letais tinham fugido. (…)

Fui conduzido a um coronel recém-aposentado que fez sua carreira — em boa parte preenchida por dúvidas acerca da moralidade do seu trabalho — na Divisão Química do Exército dos Estados Unidos. Não demorei muito para entender que o país não pesquisava apenas uma defesa para o caso de um ataque russo, como constantemente se afirmava — como vacinas e tudo o mais — , também havia um impulso intenso para desenvolver armas químicas e biológicas que pudessem causar destruição em massa. Cedo ou tarde vim a descobrir que entre os envolvidos em segredo nesses projetos estavam alguns dos melhores cientistas americanos . (…)

(…) escrevi um artigo longo sobre as CBW para eles, que recebeu um título dramático: “Só uma gota pode matar”. O artigo, publicado no dia 6 de maio, listava 52 universidades e centros de pesquisa universitários que trabalhavam com as CBW sob contrato militar. Escrevi que boa parte da pesquisa estava diretamente ligada à Guerra do Vietnã, acrescentando que esse trabalho também era um risco nacional: havia risco de ocorrer uma calamidade no caso de um acidente nas comunidades próximas aos centros de produção de CBW. O artigo desencadeou protestos nos campi e provocou alguns novos questionamentos no Congresso.

(…) Escrevi um segundo artigo sobre as CBW em julho (…), informando que tinha sido contatado, desde o primeiro texto, por uma dúzia de editores de jornais universitários que, quando confrontados com negativas de oficiais das universidades a respeito de qualquer pesquisa perigosa, queriam uma garantia de que a minha lista era precisa. Era sim, e isso levou a mais protestos nos campi. Também observei, nesse segundo artigo, que nenhuma das maiores sociedades científicas tinha tomado uma posição, favorável ou contrária, a respeito das CBW. A discussão acerca da moralidade desse trabalho se espalhava para além dos campi, mas o debate não era uma questão para a grande mídia. Não fiquei surpreso com a incapacidade da imprensa em compreender que os Estados Unidos estavam buscando desenvolver um novo sistema de armas estratégicas, pois vi de perto a assessoria de imprensa do Pentágono se negar a encarar o que os relatos de Hanói feitos por Harrison Salisbury sugeriam. Compreendi que era muito mais fácil aceitar uma negativa oficial do que se aprofundar numa questão difícil e controversa.”

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Pergunto: que cês acham? De lá para cá, aumentou ou diminuiu a produção de armas químicas e biológicas nos EUA e no mundo?

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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