Os estandartes juninos

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readJun 23, 2024

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Lá vem São João fazendo o passo ao som de “Vassourinhas”! Deliro? Não. É a Procissão dos Santos Juninos, cada vez mais parecida com o Carnaval.

Todos os signos do Carnaval: até o copinho de bebida (suco de maracujá?) Foto Andrea Rego Barros/PCR

Uma das mais belas manifestações culturais do Recife — a Procissão das Bandeiras dos Santos Juninos — passou por baixo de minha janela, num sexto andar na Rua da Harmonia. Como há décadas, vinha do Morro da Conceição com destino ao Sítio da Trindade. Já tinha visto inúmeras vezes, mas este ano, preso em casa há dias por uma virose braba, demorei-me um bom tempo na janela. E tomei um susto: era Carnaval!

Bem, Carnaval é modo de dizer. Mas que parecia, parecia. O cortejo é formado por vários subconjuntos (pequenos blocos), cada qual com seus estandartes e orquestra, com alas de desfilantes fantasiados, evoluindo em coreografias balançantes. Uma festa de som e cores. Tal e qual um desfile carnavalesco.

Claro, há diferenças. A celebração nasceu religiosa e assim continua. As fantasias não têm a exuberante diversidade das carnavalescas: são todas representações estilizados do matuto, como imaginados pelos citadinos — camisa xadrez, saias rodadas etc. Mas, de tão estilizadas têm todos os elementos semióticos daquelas.

E as orquestras restringem-se, sim, a um repertório junino –“Olha pro céu, meu amor” é a peça mais tocada e mais linda nessa época. Mas — num andamento acelerado que eu, como qualquer leigo, poderia dizer: em ritmo de frevo.

Constatei que algumas são mesmo orquestras de frevo e até alguns daqueles subconjuntos são blocos carnavalescos em versão joanina, como o Bloco das Ilusões, o Cordas e Retalhos e o Eu Quero Mais.

E o toque carnavalesco mais flagrante, visto de longe, são as bandeiras dos santos, réplicas perfeitas dos estandartes, em seus signos mais evidentes como formato, cores e até o jeito de empunhar: faltam apenas os mestres-salas.

Bem, faço este registro bem superficial, porque fiquei maravilhado: pela prova viva da dinâmica da cultura popular e pelo hibridismo característico de nossa formação (já de há muito captado por Oswald de Andrade em seu antropofagismo e Gilberto Freyre, sob o nome miscigenação). Gente muito mais qualificada, como as pesquisadoras Rita de Cássia Barbosa de Araújo e Sylvia Costa Couceiro e o professor Mário Ribeiro dos Santos, estão aí para falar de cátedra e com profundidade sobre esse tema.

Aqui apenas registro meu maravilhamento: Vivam Santo Antônio, São João e São Pedro! Viva Zé Pereira! Viva o Brasil Híbrido! Viva o Povo Brasileiro!

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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