A pergunta que Bonner não fez a Lula
O âncora se eximiu de fazer uma pergunta lógica e incontornável, adiando-a por uns 50 anos.
A entrevista de Luiz Inácio da Silva — Lula, ao Jornal Nacional de ontem (25/8), começou abordando o tema mais esperado e impactante — a corrupção -, com a seguinte fala do âncora William Bonner:
“O Supremo Tribunal Federal lhe deu razão, considerou o juiz Sérgio Moro parcial, anulou a condenação no caso do triplex e anulou também outras ações por ter considerado a vara de Curitiba incompetente. Portanto, o senhor não deve nada à Justiça”.
Em seguida, o apresentador fez uma pergunta irrelevante sobre como Lula iria convencer os eleitores de que os escândalos não vão se repetir.
Levando em conta o papel exercido pela Globo durante a Lava Jato (a cobertura acrítica, que na verdade foi uma parceria, funcionando como assessoria de imprensa de Sérgio Moro, criando dele a imagem de um herói justiceiro intocável e dedicando milhares de segundos às acusações que construíram dia a dia, milímetro a milímetro a imagem negativa de Lula como ladrão, exaustivamente manejada por Bolsonaro até hoje e amanhã), a pergunta lógica e incontornável deveria ser:
- O senhor nos perdoa?
Mas Bonner se omitiu, dentro da estratégia da emissora de pedir desculpas 50 anos depois, como aconteceu com o seu apoio irrestrito ao golpe de 1964.
Lula não deixou passar em branco ao afirmar que foi massacrado e somente agora estava tendo direito de se defender diante dos milhões de espectadores da Rede Globo.