E SE?
O dia em que a Terra poderia ter parado por causa da pergunta de uma estagiária e da resposta do jovem entrevistado.
Não sou contra chuvas” — disse ontem o estudante Y, na Avenida Guararapes.
Era assim que começava o texto da estagiária. Em sua primeira matéria no jornal, recebera a tarefa de cobrir a repercussão de uma chuvada mais ou menos intensa na cidade. Taí uma pauta genérica, dessas que o chefe de reportagem inventa para dar o que fazer aos novatos na Redação. Impossível algo assim render uma notícia publicável.
A garota, que depois se tornaria conceituada repórter de tevê, ouviu as platitudes de meia dúzia de pessoas no centro da cidade: “Qualquer chuvinha engarrafa o trânsito”, “Logo hoje eu saí sem sombrinha” etc. E escolheu, sabe-se lá porque, a frase estapafúrdia para o lead (no jargão jornalístico, o parágrafo que abre as notícias cotidianas).
Faz tempo isso e, pelo que lembro, a matéria não foi publicada. É possível que o tal estudante, pego de surpresa com alguma pergunta mal formulada — “Qual sua opinião sobre as chuvas?” — tenha dito a primeira coisa vinda à cabeça, sem atinar para o ridículo da fala. Mas ali, estampada nas laudas timbradas do texto datilografado (eram os anos 1970), aquela opinião inesquecível impunha uma questão.
E SE?
Quer dizer que o carinha nada tinha contra as chuvas? Muito bem. Porém, se ele, ao contrário, fosse contra as chuvas. Das duas, uma:
A atmosfera terrestre continuaria sua marcha, indiferente à declaração.
Ou, assustada, desligaria suas engrenagens, cessando as precipitações pluviométricas em todo o mundo, deflagrando uma seca eterna.
Imaginem o perigo.