O Holocausto de Gaza
A genealogia da extrema direita israelense demonstra que faz sentido comparar o genocídio em Gaza, executado pelo governo Netanyahu, ao holocausto praticado pelos nazistas.
“Um partido político intimamente semelhante em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazistas e fascistas.”
Foi assim que o físico Albert Einstein, a cientista política Hannah Arendt e mais 26 ilustres personalidades judias residentes nos EUA, classificaram o Partido Haherut e seu líder, Menachem Begin, em carta publicada no jornal New York Times no dia 4 de dezembro de 1948. O texto acrescenta ter sido o tal partido formado a partir da organização terrorista de extrema direita Irgun.[1]
Naquele ano, havia sido fundado o Estado de Israel, com a retirada dos colonialistas ingleses da Palestina. Begin concorria às primeiras eleições israelenses e a visita aos EUA era um factóide eleitoral. Ele e seu partido de extrema direita foram derrotados.
A carta histórica detalha o massacre perpetrado pelos terroristas liderados por Begin na pacífica aldeia árabe de Deir Yassin, quando 240 civis — incluindo mulheres e crianças — foram executados e os sobreviventes levados a Jerusalém e exibidos como troféus de guerra. “O incidente de Deir Yassin exemplifica o caráter e as ações do Partido Haherut” — denunciam os signatários.
Ligando as pontas:
1 — O Partido Harerut (Liberdade) é o embrião do atual Likud (Consolidação), atualmente no poder em Israel.
2 — Menachem Begin, que chegaria ao cargo de 1º ministro três décadas depois, tem como seu herdeiro político direto Benjamin Netanyahu, atual governante de Israel.
3 — O genocídio em Gaza é a ampliação, em larga escala, do massacre de Deir Yassin.
Esta é genealogia da extrema direita israelense e do terrorismo de Estado em Gaza. Que obviamente não pode ser confundido com o povo judeu como um todo, como bem demonstra, desde aquela época, a posição daquele proeminente grupo da comunidade judaica americana .
Soube pelo escritor moçambicano Luis Patraquim da existência da carta de 1948, cujos autores, cidadãs e cidadãos judeus, não poderiam ser chamados de antissemitas nem pelo mais desvairado dos bolsonaristas.
Entretanto, quando Lula acusou Netanyahu de usar métodos nazistas, repetindo a denúncia de Albert Einstein e Hannah Arendt, a imprensa brasileira estrilou histérica que não se podia comparar o genocídio em Gaza ao Holocausto em Auschwitz. Puro partidarismo.
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[1] Fonte: New York Times. Sábado, 4 de dezembro de 1948: