O factóide
Vazamento de diálogos internacionais sobre Marielle e AI-5 revela como funciona a estratégia de comunicação de certo clã.
Primeiro diálogo 1 — Terça-feira, 29/10/2019
— Alô, Steve? É o Eduardo.
— Fala, boy.
— Steve, temos um problemaço. Você conhece bem o caso da Marielle, aquela vereadora…
— Sei, sei.
— Pois é, cara. Estava tudo sob controle, mas agora há pouco a Rede Globo botou merda no ventilador.
— Merda no ventilador?
— É como a gente diz quando alguém faz uma cagada… quando alguma coisa dá errado. A Rede Globo botou no ar a história do porteiro, do Élcio e do Ronnie…
— Hein?
— Aquela história da Marielle, cara. A vereadora que foi apagada. Tava tudo sob controle. E agora a Globo botou o nome do paipai no meio. Fodeu, cara.
— Hum. Isso é sério.
— Sério pra caralho, cara. Se puxam o fio…
— E quem fez isso?
— Eu tenho minhas dúvidas, mas Paipai e o Carlos acham que foi o Witzel.
— Witzel?
— O governador do Rio, Wilson Witzel.
— Ah, o zero à esquerda que surfou na campanha de vocês. E por que o filho da puta faria isso?
— Paipai e o Carlos acham que ele é candidato a presidente em 2022.
— Caramba, vocês antecipam as campanhas pra caralho! Bom, ele tem que fazer um pronunciamento hoje mesmo desmentindo tudo, como sempre.
— Hoje mesmo? Não dá tempo de preparar.
— Tem que ser esta noite mesmo. Não deixar a coisa crescer. E não precisa preparar nada. Ele é melhor no improviso, soa mais espontâneo. O conteúdo não tem importância. É desmentir e mostrar indignação, muita indignação. Na tevê, mais que o conteúdo o que importa é o que você passa para o público. Você também sabe disso. E não esquecer a Regra nº 1.
— Ah, a melhor defesa é o ataque!
— Isso. Sempre sair da defensiva, apontar um inimigo. Política não se faz sem um inimigo. A guerrinha com a Globo não é novidade. Mas esse William é.
— Wilson.
— Ah, Wilson. E também faça logo a Regra nº 2.
— Desviar o assunto.
— Isso mesmo, my boy.
— Atacar a esquerda. Boto a Venezuela no meio?
— Não, good boy. Melhor falar no perigo vermelho, ameaçar a volta da ditadura. Vai funcionar melhor, você vai ver.
— Certo.
— E faz isso o mais depressa possível, amanhã logo, se puder.
Segundo diálogo, sexta-feira, 01/11/2019.
— Alô, Steve?
— Eu.
— É o Eduardo.
— Fala, boy.
— Bingo! Deu certo, cara! Deu certo novamente! Os caras morderam a isca direitinho. A imprensa e a oposição só falam agora em AI-5.
— AI-5?
— O ato de 1967… ou foi 1968… que fechou o regime militar, cara. Palavrinha mágica. O caso da moça ficou em segundo plano. Viva você, Steve! Mas tem uma coisa me preocupando.
— O que é, boy?
— A oposição reagiu fogosa demais. Tá pedindo minha cassação.
— Oh, little boy! Calma no Brasil! Vocês não têm maioria no Congresso, apesar das encrencas?
— Temos, mas…
— Nada de but. Vai dormir tranquilo, guy. E faz uma live nova pedindo desculpas. Pra se garantir. God save America!
— God save America!
(Nota: esses diálogos são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade, porém, não será mera coincidência.)