O dilema da pobreza

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readApr 18, 2020

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A pesquisa nos diz: entre a fome e a morte, os pobres preferem que seus filhos trabalhem, mesmo com o risco de trazerem o contágio para casa. Buscam se equilibrar entre o noticiário da imprensa (martelando a necessidade da quarentena) e as falas e atos do presidente (pregando e agindo no sentido contrário). Nesse choque cognitivo cruel, tentam sobreviver. E seja o que Deus quiser.

Essa circunstância revela o Estado de Necessidade em sua brutalidade, manipulado com habilidade pelo presidente Jair Bolsonaro.

No Brasil, só as classes médias podem se dar ao luxo da quarentena. Para cada privilegiado que, como eu, posso ficar em isolamento, há um batalhão de pobres viabilizando nossa logística: entregadores, atendentes, caixas, vendedores, balconistas, embaladores, transportadores etc., sem falar nas empregadas domésticas.

O presidente pode defender abertamente o interesse dos empresários, a pretexto de manter o emprego. Finge priorizar os pobres, enquanto libera com agilidade bilhões de ajuda aos bancos e empresas. Aos pobres, joga a migalha de 600 reais (queria dar 200,00, o Congresso foi quem aumentou), sob exigências burocráticas que retardam o alívio irrisório e levam milhões de pobres a se aglomerarem diante das agências da Caixa Econômica.

Imagine, caro leitor, você que está em sua casa, ter que ir à rua, enfrentar filas enormes, expor-se ao coronavírus, para no final levar aquela dinheirama.

E assim, o chefe do governo, pela manipulação discursiva reiterada, mantém inabalável sua popularidade entre os mais necessitados, os quais ele parece defender.

Infelizmente, talvez só a catástrofe anunciada (se as medidas dos governadores não prevalecerem contra a pregação contrária do capitão) destrua a imagem de Bolsonaro, às custas de milhares de vítimas.

A pandemia escancarou nosso abismo social.

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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