O Caetano Veloso de cada um

Descobri uma expressão para medir a relação entre ego e escrita, com base na experiência de um amigo escritor.

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readMay 27, 2023
Caetano se destaca por ser o mais criativo, instigante e reflexivo artista de uma geração brilhante.

Pra começo de conversa: considero Caetano Veloso o artista mais criativo, instigante e reflexivo de uma geração brilhante. Me identifico mais com o Chico Buarque das letras narrativas de um lirismo maduro e compreensão mais cartesiana do mundo. Mas isso é uma questão subjetiva. Caetano está um degrau acima de todo mundo por sua postura de sempre experimentar, com base em sólidos conhecimentos etc. etc.

Isso é só o nariz de cera para falar o seguinte. Um amigo, belo escritor, escreveu um texto longo e denso sobre uma experiência de grande repercussão coletiva, dentro da qual ele se colocava pessoalmente, como permite e até incentiva o código literário dos grandes ensaios.

Ocorre que, tendo-se em alta conta — o que não é nenhum despropósito, em face de suas altas qualidades — parece haver ultrapassado as fronteiras do solipsismo. Isso é o que se depreende da resposta de um editor sincero, ao rejeitar sua publicação: “Está ótimo, mas você não é Caetano Veloso”.

Traduzindo: sendo um quase ilustre desconhecido, meu amigo escritor valorizara demais sua própria vivência, coisa que somente as celebridades podem fazer — no caso do baiano com conhecimento de causa.

Adotei a expressão. Sempre que, em meu trabalho de consultor literário, pinta um texto onde se detecta a mão pesada do autor, advirto: “Tem Caetano Veloso demais aí!” Quando conto a historinha, os clientes entendem e acham graça.

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Written by BLOGUE DE HOMERO FONSECA

Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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