Noturno paulistano

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readJul 31, 2021

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Composição de Carlinhos Vergueiro e J. Petrolino (Aluízio Falcão) traz a poesia do cotidiano — marca do jornalista, escritor e letrista pernambucano.

“Oh! Cidade dos cabelos finos de neblina / Minha noite paulistana louca e bailarina.” Foto: Wallhere

Aluízio Falcão é mezzo pernambucano mezzo paulistano. Nascido em Caruaru, veio para o Recife aí pelos fins da década de 1950 e tornou-se respeitado jornalista. Passou pela Rádio Olinda, Diario de Pernambuco e Última Hora, onde foram encontrá-lo labutando os esbirros do golpe de 1964. Como o homem tinha sido presidente do Sindicato dos Jornalistas, secretário particular do governador Miguel Arraes e fundador, ao lado de Abelardo da Hora, Germano Coelho, Paulo Freire e tantos outros e outras, do glorioso MCP — Movimento de Cultura Popular, foi enquadrado como perigoso subversivo e teve de exilar-se em São Paulo, onde se tornou corintiano e vive até hoje, com incursões anuais ao estado natal para cultivar laços de amizade e convivência. Na Paulicéia desvairada, trabalhou de publicitário e foi sócio da gravadora Discos Marcus Pereira e diretor da Rádio Eldorado.

A Discos Marcus Pereira (1973–1981), apesar do pouco tempo de existência, deixou uma marca profunda na música popular brasileira. Editou cerca de 140 discos, dos mais variados estilos, inclusive os primeiros LPs de Cartola, Donga, Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial e Canhoto da Paraíba. E documentou o Mapa Musical do país: manifestações folclóricas e populares de todas as regiões, com intérpretes anônimos e famosos.

Mas eu vim falar mesmo foi de uma faceta menos conhecida de Aluízio: a de grande letrista, que não deve nada aos maiores poetas do pedaço: Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, Caetano Veloso, Guilherme de Brito ou Aldir Blanc. Ele usa o pseudônimo pernambucaníssimo J. Petrolino e fez parceria com muita gente boa, sendo seu principal parceiro o compositor e cantor paulistano Carlinhos Vergueiro. Suas letras têm lirismo, boemia e crítica social, dosando drama e humor. Extraordinário cronista com vários livros publicados, Aluízio Falcão derrama em seus letras de música a poesia do cotidiano.

Confiram nesse “Noturno paulistano”, do repertório do disco Contra corrente, lançado em 1978, na voz de Carlinhos Vergueiro:

www.youtube.com/watch?v=Qz0z_M-Pdcw

Aqui a letra, pra quem gosta de ouvir cantando:

“Noturno paulistano”

Oh cidade dos cabelos finos

De neblina

Minha noite paulistana

Louca e bailarina

Faz o strip-tease

Mostra o riso

E a cidade nua

Vai pra rua

E se mostra humana

E vai em cana dura

E bebe e perde a compostura

Segue a noite

E um cantor de tangos de cantina

Mesa em mesa

Passeia a tristeza e a concertina

Morte e vida

Começa a corrida

Pela contramão

Lei do cão

Ou mata ou morre

Ou corre

Ou toma um porre

E a noite escorre

Igual ao dia a dia

Em vão.

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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