No Brasil, a História não se move.
Os problemas e os temas se repetem, como se o tempo não houvesse passado. Desde o século 19 falava-se em imprensa elitista, destruição de florestas, reforma agrária, ataques ao Congresso e crises políticas calamitosas.
Um barbudo invocado disse certa vez que a História se repete como farsa. Hoje, vemos que nem sempre. Às vezes, tragédias se repetem, como a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais. Mas o que dizer de um país onde simplesmente a História não anda? Eis trechos de textos de ilustres brasileiros, datados de mais de um século, que demonstram que, apesar das tecnologias, da acumulação do capital, do aumento populacional continuamos enfrentando os mesmos problemas.
Imprensa, elites e povo.
“O jornalismo está desmoralizado entre nós pelo furor plutocrático dos redatores.”
André Rebouças, em carta a Joaquim Nabuco, 1886.
Basta ler os jornais e assistir aos noticiários de tevê para constatar o fato.
Destruição das florestas.
“No Brasil (quem o creria!) são entregues ao machado e às chamas!! É tempo pois ainda que os brasileiros saiam dos seus descuidos e atendam à sorte futura de seus filhos. É de sua própria utilidade, não só conservar e pensar suas matas virgens, mas cuidar em plantar novas florestas, que venham a ressarcir as que a ignorância destruiu. É também de sumo interesse à saúde pública, que no Brasil se plantem árvores.”
José Bonifácio de Andrada e Silva — Representação à Constituinte de 1823.
O problema dos sem-terra.
“Todos os homens de cor forros, que não tiverem ofício, ou modo certo de vida , receberão do Estado uma pequena sesmaria de terra para cultivarem, e receberão outro sim dele os socorros necessários para se estabelecerem, cujo valor irão pagando com o andar do tempo.”
José Bonifácio de Andrada e Silva — Representação à Constituinte de 1823.
Dom Pedro I dissolveu a Constituinte e mandou prender e deportar José Bonifácio. A Amazônia está mais ameaçada do que nunca. A Reforma Agrária nunca foi plenamente realizada, resultando no desamparo de milhões de trabalhadores rurais e pequenos agricultores sem-terra.
Ataques ao Congresso Nacional.
“Faço estas observações porque os negócios públicos, uma vez trazidos ao conhecimento do País pela imprensa e desde que afetam a dignidade de uma instituição à qual todos os dias os ministros lançam infelizmente em rosto que ela não representa o País, devem ser verificados de um modo que o País fique perfeitamente conhecendo, e que o historiador possa bem estudar, e o lugar próprio para os verificar é a própria tribuna do Parlamento.”
Joaquim Nabuco em discurso na Câmara dos Deputados em 30/08/1880.
Novo ataque está planejado contra o Congresso Nacional para o dia 15/03/2020, com apoio do próprio chefe do Executivo.
Crise, lamentações e luta.
“Chegamos, eu confesso, a um tempo difícil, cuja literatura única em harmonia com as calamidades nacionais parece ser a dos antigos profetas chorando lamentações sobre as ruínas e o cativeiro de Jerusalém, mas por isso mesmo é chegado o tempo da luta e do combate.”
Joaquim Nabuco, em campanha no Recife para sua reeleição à Câmara dos Deputados, em 1884.
As calamidades nacionais estão aí, assim como o dilema entre chorar sobre as ruínas ou lutar e combater.