Militarismo à brasileira
“Desde a articulação para derrubar a monarquia sucederam-se as conspirações, tentativas de golpe, os golpes consumados, duas ditaduras, sem que a presença civil lhes mudasse a natureza, de imposição pelas armas”.
POR JÂNIO DE FREITAS
Os militares precisam fazer um exame honesto e profundo de sua relação com o país. Sem isso, sua caracterização militar será sempre um rascunho e sua autoimagem sempre ilusória.
Por décadas, foi este o bordão dos militares em sua claudicante responsabilidade institucional: “os militares estão unidos e coesos, e alheios à política”. Mas estiveram sempre divididos. Por motivos políticos. O bordão no pós-ditadura, hoje em dia muito repetido, diz que “os militares têm disciplina e hierarquia”, uma comparação desqualificante do mundo civil. Quanto aos civis brasileiros, nada a retocar. Mas, historicamente, nenhum outro segmento feriu tanto a disciplina, e com tamanha gravidade, quanto os militares.
Com escassos e pequenos intervalos, desde a articulação para derrubar a monarquia sucederam-se as conspirações, tentativas de golpe, os golpes consumados, duas ditaduras, sem que a presença civil lhes mudasse a natureza, de imposição pelas armas. Não é uma história paralela. É a própria, a verdadeira, com seu roteiro de hostilidades, esperanças e frustrações, sobre o chão infértil para o civismo.
[Trecho de artigo publicado na Folha de São Paulo, 26/04/2020.]