Manu no vendaval da vida
Ela é um pingo de gente, porém mais parece um ciclone tropical.
O dia amanhecera atrasado e a mãe, alterada.
– Manu, levanta que a van da escolinha já já chega.
– Manu, lava o rosto e escova os dentes.
– Manu, penteia esse cabelo arrepiado.
– Manu, veste logo a farda.
– Manu, vem comer teu cereal.
– Manu, corre e pega a mochila.
Manu isso. Manu aquilo.
Ela se arrastava, mole de sono e preguiça, cumprindo as ordens maternas sem o menor entusiasmo. Então:
– MANU, FAZ O QUE TÔ MANDANDO, SENÃO…
A menina, do alto dos seus cinco aninhos bem vividos, encara a mãe e, com as mãos espalmadas para baixo, no clássico gesto de mandar o interlocutor se moderar, ironiza:
– Calma, calma. Isso tá parecendo um assalto!
Essa é a mesma Manu que um dia, vendo chegar arfando da rua o pai de 110 quilos, dirige-se a ele com a voz mais persuasiva possível:
– Pai, você já se imaginou magro?
A mesma que, sem mais nem menos, proclamou como se falasse consigo mesma:
– A gente não pode se apaixonar por qualquer pessoa.
Pai e mãe se entreolham, atônitos. Ela se apressa em explicar:
– Porque se a gente se casa com alguém e depois vê que é um bandido… Vai ter de devolver o anel.