Leitura de quarentena: “1968 — Abaixo as ditaduras”
Coletânea multidisciplinar de textos traz oportunidade para refletir, no que tem de diferenças e afinidades, sobre aquele ano que incendiou o mundo e nossa realidade atual.
Descontando as enormes diferenças de conteúdo, especificidades e abrangência, as atuais manifestações remetem ao movimento global das juventudes no marcante ano de 1968. Elas repetem, com maior ênfase, a luta permanente contra o racismo nos Estados Unidos e acrescentam a pauta do antifascismo que não estava colocada há 52 anos no hemisfério norte. Também transbordam para outras partes do mundo, especialmente a Europa.
E chegam ao Brasil, onde diariamente a polícia mata negros e não há comoção alguma. Menos mal que o assassinato de George Floyd — gravado por celulares e transmitido para o mundo, coisa que não havia em 1968 — tenha acendido uma centelha por estas bandas e lembrado os nomes de algumas das muitas crianças negras vítimas da violência policial e/ou racial, como as crianças João Pedro e Ágata e tantos jovens de nossas periferias.
No Brasil de agora, o clamor antifascista se levanta, apesar da pandemia da covid-19, trazendo à tona um dilema cruel: saio de casa e me exponho e exponho outros ao contágio do coronavírus, ou deixo as ruas ocupadas pela extrema direita, cada vez mais barulhenta e ameaçadora, como na Alemanha dos anos 1930?
Em 1968, colocamos na agenda dos direitos civis o combate à ditadura, no que, assim como muitos vizinhos latino-americanos, nos diferenciávamos dos EUA e da Europa.
O organizador, Homero Fonseca, conta: “A ideia de organizar a coletânea 1968 — Abaixo as ditaduras veio da necessidade de mergulharmos na memória e captar as singularidades daquela onda de protestos mundiais em nossa aldeia e recuperar o tempo social que então vivíamos, naquilo que nos era específico.”
Eis que o autoritarismo bate à nossa porta, entra em nossos lares pela televisão e pela internet, vocifera nas ruas e ameaça os restos de nossa combalida democracia. Os tempos são outros e as perdas e ganhos daquelas manifestações de meio século atrás ainda são debatidos. Não sabemos o que acontecerá amanhã. Mas temos certeza de que o relato do que aconteceu ajudará a refletir sobre o hoje e suas interrogações.
Organização e introdução: Homero Fonseca. Textos: Ester Aguiar, José Almino Alencar, Socorro Ferraz, Raul Córdula Filho, Marco Polo Guimarães, Lourival Holanda, Fernando Monteiro, Benjamin Santos.
À venda na Cepe Editora e nas boas livrarias, em formato impresso e digital.
http://editora.cepe.com.br/livro/1968---abaixo-as-ditaduras-