Homenagem à mulher brasileira
Comovido, indignado, culpado, tiro meu chapéu para a mulher do povo, heroína do cotidiano.
Ela mora na periferia. Lê e escreve precariamente (cursou o fundamental numa escola pública). Tem quatro filhos de pais diferentes. Precisa do Bolsa Família para sobreviver. Sustenta sozinha a família, incluindo a mãe idosa, com quem deixa as crianças para ir trabalhar. Moram, todos os seis, numa casa de um quarto, sala, cozinha e banheiro. Com a ajuda da filha de 12 anos, cozinha e lava as roupas da casa.
Acorda às 4 horas e dorme às 22 diariamente. Com frequência, fica acordada para esperar chegar água na torneira e encher latas e baldes. Para ir ao trabalho, pega o metrô e um ônibus (ambos lotados). Somando ida e volta, gasta quatro horas diárias em média nos deslocamentos.
Ganha entre 1 salário mínimo (quando consegue emprego fixo, com carteira assinada, como doméstica ou operária) e 3 (quando jovem e diarista, atendendo três casas por semana).
Quando ela ou um filho adoece, vai a uma unidade do SUS buscar atendimento, nem sempre conseguindo.
Tem medo de andar sozinha, pois quando adolescente foi estuprada pelo padrasto. Sofre na pele vários tipos de discriminação. Seu único consolo é saber que Jesus a salvará um dia. Não acredita em políticos, pois só os conhece de vista nas passeatas das épocas de eleição. Não tem poupança. Nunca viajou a Miami.