Governo Bolsonaro começa agora
Projeto de poder, hibernado pela crise da pandemia, retorna com força após alinhamento do Congresso. Breve interpretação.
2019
Primeiro ano foi de consolidação do bolsonarismo como força política, repetindo o discurso da campanha eleitoral. Projeto de poder delineia-se (sob aparência de confusão), com estratégia de tentativa e erro, testando os limites da democracia. Programa econômico neoliberal avança (reformas trabalhista e previdenciária). Acelera-se desmonte de políticas públicas, sociais e culturais herdadas da socialdemocracia petista. A esquerda, sem articulação, é silenciada pela mídia, que fomenta o debate Direita 1 (bolsonarismo) versus Direita 2 (direita liberal) com vistas a 2022.
2020
Pandemia impacta cenários político e econômico. Escalada rumo ao autoritarismo hiberna. Popularidade dá sinais de queda com desastre na gestão da saúde, logo recuperada pelo auxílio emergencial. Direita liberal externa conflitos, mas dissidência não avança por conta da manutenção do programa neoliberal na economia. Sem pré-condições políticas, campanha da esquerda pelo impedimento não decola. Bolsonaro dá uma guinada estratégica: concentra-se no jogo institucional, aliando-se ao centrão (a “velha política”) e articulando (à base do toma-lá-dá-cá) a troca de Rodrigo Maia (representante da direita liberal) pelo aliado (Arthur Lira) na presidência da Câmara.
1º de fevereiro de 2021
Com Legislativo e Executivo alinhados, começa de fato o Governo Bolsonaro. Com sólida base parlamentar e ancorado na recuperação dos índices de popularidade, na lealdade à base de privilégios das Forças Armadas, na fidelidade das lideranças evangélicas e outros trunfos, Bolsonaro deverá aprofundar programa neoliberal (reformas administrativa e tributária e privatizações, incluindo a Petrobrás), garantindo o apoio do “Mercado”. Prosseguirá programa ideológico (talvez amenizando o discurso) e manobrará para efetivar seu projeto de poder, controlando as Polícias Militares e estimulando o armamento de milícias civis.
Cenário internacional (saída de Trump e aumento das pressões na questão ambiental) e evolução da pandemia de coronavírus são as maiores incógnitas.
O desafio às forças democráticas é tremendo.
E mais não digo pois não sou adivinho.