Fascista fuzila a paz

Essa manchete, ao estilo do jornalista Ronildo Maia Leite, brota do filme “O último dia de Yitzhak Rabin”.

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readMar 2, 2024
Funeral de Yitzahk Rabin: três tiros esfumaçaram a esperança de paz. E tudo deu no que deu.

4 de novembro de 1995. Milhares de pessoas se aglomeram na Praça dos Reis, em Tel Aviv, num comício em apoio às negociações costuradas pelo 1º ministro israelense Yitzhak Rabin e seu chanceler Shimon Peres com o líder palestino Yasser Arafat. O trio havia ganho o Prêmio Nobel da Paz, um ano antes. Nunca a paz naquela região esteve tão perto. À saída do comício, Yitzhak Rabin foi alvejado e morto pelo jovem radical de direita Amir Yigal, insuflado por rabinos fundamentalistas. Três tiros esfumaçaram a esperança.

A História deu um gigantesco passo para trás. E desembocou no hoje. Um diálogo sintetiza as mentalidades: questionado à época por um extremista por “fazer a paz com nossos inimigos”, Rabin deu uma resposta antológica: “O que podemos fazer? A paz não se faz com amigos, mas com inimigos”.

Trago o assunto à baila porque assisti ontem ao filmaço O último dia de Yitzhak Rabin. Ainda impactado pela narrativa — uma mistura de documentário e ficção –, recomendo fortemente aos homens e mulheres de boa vontade.

O filme é uma radiografia de Israel, focando na polarização que cinde o país desde então. As cenas mostram os radicais judeus chamarem Rabin (antes de ingressar na política, um herói de guerra) de “nazista” e “Hitler”. Portanto, comparações com o Holocausto não são tabu por lá. A mídia tupiniquim é que fica histérica.

A obra leva-nos a compreender melhor o genocídio em Gaza, hoje. E também permite fazer uma ponte com a realidade brasileira atual: Netanyahu = Bolsonaro, rabinos radicais = pastores fundamentalistas. Daí a fascinação confusa da extrema direita brasileira pelo Estado de Israel. Eles querem imitar os de lá e constituem um perigo que não pode ser subestimado. O neofascismo brasuca está vivo.

O filme é de Amos Gitaï, consagrado cineasta israelense. Vi no Prime. Mas tem em outras plataformas.

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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