Esquerda amordaçada
Mídia minimiza carreatas pela vacinação e impeachment de Bolsonaro. A pisada será essa até 2022.
Tudo bem que as carreatas de ontem pela vacinação e impedimento de Bolsonaro não bombaram. Mas em tempos de pandemia e depois de um largo período sem manifestações de rua, foi um ato político importante, especialmente se contextualizado com a queda de popularidade do presidente diante do caos na crise sanitária. Também estiveram longe de serem inexpressivas. Foram, portanto, do ponto de vista jornalístico, uma notícia relevante.
Entretanto, a mídia comercial, que desde 2013 abandonou quaisquer escrúpulos profissionais para agir como partido político, minimizou o evento. Pífia cobertura nas tevês e quase omissão nos principais jornais.
Vejam as capas de hoje da Folha, Estadão e O Globo. Nos dois primeiros, pequenas chamadas de uma coluna, sem qualquer foto. No jornal da família Marinho, nem isso: zero notícia. As chamadas políticas do jornalão carioca eram de fatos menores: a “cobiça” do Centrão por ministérios e o plano de Rodrigo Maia de fazer uma frente contra Bolsonaro. Qual a novidade?
Isso ocorre diariamente: a esquerda foi amordaçada pela mídia. A grande cobertura centra-se nas disputas entre a Direita tradicional (Dória, Moro, Huck e quejandos) e a Extrema Direita (Bolso et caterva). Nos debates, “especialistas” convidados enquadram-se nessa bitola. E a pisada vai ser essa até 2022, a menos que a Esquerda descubra modos de romper a cortina de ferro — ocupando as ruas de forma crescente, por exemplo.
Os mais antigos lembram da Campanha das Diretas, reivindicando eleições livres, durante a ditadura, no início dos anos 1980. A Rede Globo omitiu o movimento o quanto pôde, até ser impossível esconder as multidões que tomavam as ruas das capitais. Entrou na cobertura por obrigação, sob vaias dos manifestantes quando aparecia nos comícios.