Coronavírus: a esquerda sumiu
O noticiário esconde a oposição de esquerda. Mas ela ajuda isso, ao não sistematizar ações como a criação de um Comitê de Crise e fechar alianças ousadas com o centro e os sociais liberais.
A mídia está dedicando sua programação ao combate ao coronavírus, atitude pra lá de louvável. Mas algo salta aos olhos: a oposição, especialmente a de esquerda, está simplesmente ausente do noticiário. Nada a estranhar: desde o início dos anos 2000 a mídia brasileira é um partido de centro-direita.
Mas a esquerda está ajudando a mídia a escondê-la: não age em bloco, não propõe medidas consistentes, sistemáticas e impactantes, nem se mexe na direção de alianças factíveis com o centro. Como em 2013, está a reboque dos fatos.
Não sou cientista político, nem nada, mas sugeriria que as oposições de esquerda:
1 — Criem um Comitê de Crise, composto por lideranças políticas e representantes técnicos. Esse comitê monitoraria as ações do governo. Criticaria as medidas antipopulares (como redução de salários, saques do FGTS etc.) e proporia ações alternativas, incluindo instituição de renda mínima para os pobres, como baluartes do liberalismo/capitalismo, mesmo com atraso, estão fazendo (EUA, Reino Unido etc.). Medidas audaciosas, para além da ajuda financeira aos pobres aprovada por Rodrigo Maia, devem ser propostas. Sigam Trump e Boris Johnson (dois novos comunistas na cabeça da turma do Bolsonaro). Pensem em coisas como engajar o Exército no combate ao vírus.
2 — Entabulem negociações para aliança com o centrão, centro-esquerda, sociais liberais. Esses, inclusive, saíram na frente com propostas ousadas, como as dos senadores Plínio Valério (PSDB-AM), que cria o imposto sobre grandes fortunas, incidindo sobre patrimônios líquidos superiores a R$ 22,8 milhões, com alíquotas que vão de 0,5% a 1%, e do senador Wellington Roberto (PL-PB), que autoriza o governo a tomar empréstimos compulsórios de empresas com patrimônio líquido de ao menos R$ 1 bilhão, com limite de 10% do lucro líquido dos 12 meses anteriores e 4 anos para restituição em até 12 parcelas mensais, com taxa Selic. É preciso viabilizar esses projetos. Não interessa a paternidade.
Ficar simplesmente reagindo às loucuras metódicas de Bolsonaro é morder a isca e perder precioso tempo. E sumir.
Desculpem a ousadia.