Ciladas e dilemas da internet
Um caso de chantagem emocional mostrando que viver é perigoso mesmo no ambiente virtual.
Um amigo me contou haver se deparado com uma garota nas redes sociais, que gostava de ler e sabia de cor versos de Fernando Pessoa. Pelo perfil, ela era da mesma cidade dele, tinha 18 anos e pretendia fazer o curso de Letras. Foi grande a afinidade e, apesar de ele ser bem mais velho, as mensagens trocadas em espaço reservado evoluíam para algo mais. Foi quando veio a revelação bombástica: a garota, na verdade, era um garoto, e estava perdidamente apaixonado pelo cidadão. E começou a pedir o número do telefone, acenando um encontro. Meu amigo não é preconceituoso, mas seu objeto de desejo são as mulheres. Começou a tirar o corpo aos poucos, mas a reação foi inesperada: o rapaz ameaçou suicidar-se se ele não lhe desse o telefone. O dilema custou algumas noites de sono: era uma chantagem emocional, claro, mas haveria algum perigo real de acontecer o tresloucado gesto? Ao mesmo tempo, se cedesse à chantagem, meu amigo sabia que era grande a chance de sua vida virar um inferno. Pesando os prós e contras, resolveu não ceder e bloqueou o outro. Passou uns dias vendo aflito o noticiário local das tevês, na expectativa da notícia do suicídio de um jovem. Nada aconteceu e a vida seguiu.
Lembrei dessa história algo dramática num episódio me acontecido, dias desses. Uma guria postou no meu Messenger: “Oie”. Dei uma olhada no perfil: gaúcha, bonita, bem fornida, shortinho e decotão. E o detalhe: 15 aninhos. Isso pode dar cadeia, pensei, e calado estava calado fiquei. Poucos dias depois, a pergunta: “Por que você não me responde?” Contra-perguntei: “Que queres tu de mim, menina?” E ela: “Quero te conhecer.” Então, respondi: “Sou velho, pobre e moro no Nordeste”. Ela, então, arrematou: “Sim, mais nada a ver”. E tudo se tornou um não-episódio, para meu alívio.