Biografia da Boa Vista
Um relato sobre o multifacetado bairro do centro do Recife, tendo por guia sua sonoridade.
Nos anos 1970, o Bar Mustang recebia a estudantada ao fim das aulas noturnas, intelectuais, artistas, políticos e bichos-grilos vindos sabe-se lá de onde. Nele, exercia-se plenamente a arte da conversa. Com direito a discussões e desavenças. Certa noite, um cantor famoso nacionalmente e um pintor de renome estadual se estranharam e partiram para o xingamento:
— Beócio!, bradou um.
— Paletó!, retrucou o outro.
Menos sutis, em outra ocasião, um sociólogo vinculado ao Instituto Joaquim Nabuco e um jornalista ligado ao jornal O Globo se exaltaram e partiram para ofensas pessoais:
— Puta de Roberto Marinho!, atacou o sociólogo de voz tonitruante, afrontando o jornalista global.
— Viuvinha de Gilberto Freyre!, replicou o jornalista com sua voz aguda, aludindo à amizade do outro com o autor de Casa-grande & Senzala, falecido em 1987.
De outra feita, numa mesa de marmanjos, tendo ao lado o namorado, a estudante alagoana Bebel, numa voz ciciante, proclamou no tom o mais casual:
— Para mim, a siririca é fundamental.
Esse é um trecho da reportagem-ensaio “Breve biografia de um bairro polifônico”, que escrevi para a revista Continente, publicada na edição 269, de maio de 2023. Um viagem pessoal, baseada em pesquisa histórica.
A quem aprouver ler a íntegra, o link é: