Avassaladora

Diante da garota escultural, meu amigo perdeu o controle e deu o maior vexame em via pública.

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readJan 23, 2022

Depois de um longo e tenebroso inverno sem dar notícias, Zé de Arruda me ligou:

− Fonseca, não sabes pelo que passei ontem.

− Conta — incentivei, sabendo que sempre vem coisa boa da boca do professor aposentado.

− Como tu sabe, há tempos não saio de casa com medo do coronavírus. Agora que tomei as três doses da vacina, tô me sentindo mais seguro para dar uma saída. Já arrisco umas idas à padaria e ao mercadinho em horários sem aglomeração.

− Mais ou menos como eu.

− Então. Mas ontem aconteceu uma coisa terrível.

− Sim?

− Ia caminhando devagar, já voltando para casa, quando pelo lado de dentro da calçada fui ultrapassado por uma moça. Mas não era uma garota qualquer, não. Era um espetáculo da natureza! A desgraçada não tinha mais que 22 anos. Quando meus olhos bateram naquele colosso, eu senti logo algo estranho. A danada usava um vestido bem curto, e tão justo que eu não sei como aquele corpo escultural cabia dentro. Um escândalo! Acho que meus neurotransmissores entraram a trabalhar freneticamente mandando mensagens urgentes ao córtex cerebral. Uma tatuagem rodeava sua coxa, com palavras indecifráveis. Comecei a tremer por dentro. A desgramada andava traçando uma linha sinuosa e ondulante. E eu me arrastando, atrás, já com medo de me descontrolar… Então, ela parou diante da portaria de um prédio e, antes de entrar… A essa altura meus olhos já desorbitavam… e ela, antes de entrar, olhou de lado, distraída… Era tão linda de dar vertigem… Minha emoção estava à beira de jorrar. Então, a miserável fez o mais maquiavélico dos gestos jamais inventados: repuxou o vestido para baixo, naquela mistura de altivez, pudor e malícia. Uma fruta madura no galho mais alto da árvore. Nessa hora, eu te confesso, camarada: realmente não pude me controlar. Desatei num choro avassalador e segui pela rua soluçando.

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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