A pergunta que Bonner não fez a Bolso
Na entrevista com Jair Bolsonaro, o âncora da Globo deixou passar a oportunidade de desmascarar as reais intenções do candidato ao questionar as urnas eletrônicas
A entrevista do candidato Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional, dia 22, marcou 32,7 pontos de média de audiência, com picos de 37 pontos, segundo os institutos verificadores. Isso significa que foi vista por uma massa de 23 milhões de pessoas, naturalmente formada por partidários e adversários do presidente-candidato.
Tem análise da sabatina, na mídia e nas redes sociais, para todos os gostos. Vou me ater a um ponto, a meu ver da maior importância. Bolsonaro e seus seguidores vêm, há bastante tempo, questionando o processo democrático-eleitoral, usando como pretexto uma fictícia insegurança das urnas eletrônicas. Ao mesmo tempo, esgrimindo uma velha tática, negam de mãos juntas que estejam fazendo o que estão fazendo todo dia, à luz do Sol.
Daí que o apresentador William Bonner tentou arrancar dele, por duas vezes, o compromisso explícito de que respeitaria o resultado do pleito. A resposta também repetida por Bolsonaro foi a de que respeitaria, “desde que fossem eleições limpas e transparentes”. O simples fato de condicionar a resposta já demonstra claramente a não aceitação do compromisso. Além disso, ao colocar essa condição (sem qualquer justificativa em fatos reais), ele abriu brecha para se desnudar suas reais intenções (só aceitar o resultado se ganhar). Para isso, deveria, de pronto, ter sido questionado:
- E quem decidirá se as eleições serão “limpas e transparentes”? Ele próprio? As Forças Armadas? Ou o TSE? O que diz a Constituição a respeito?
Bonner deixou passar a oportunidade e não fez a pergunta essencial.