A letra e a espada
O corajoso comentário “Ideologia de general”, de Gregório Duvivier, faz lembrar o episódio de 1977 com o escritor e jornalista Lourenço Diaféria.
Lourenço Diaféria (1933–2008) foi um jornalista e escritor paulistano autor de uma crônica célebre, intitulada “Herói. Morto. Nós.”, publicada na Folha de SP em 1º de setembro de 1977.
O texto comentava o ato do sargento do Exército Sílvio Hollenbach, que pulou em um poço de ariranhas no zoológico de Brasília para salvar um menino. A criança se salvou, mas o militar morreu, atacado pelos simpáticos e ferozes animais. Diaféria considerou o sargento Sílvio um herói nacional e comparou-o, favoravelmente, ao Duque de Caxias, patrono do Exército, “um homem a cavalo reduzido a uma estátua”, cuja espada “oxidou-se no coração do povo”.
O Exército se sentiu ofendido, prendeu o jornalista e enquadrou-o na Lei de Segurança Nacional. Foi condenado pelo Superior Tribunal Militar a oito anos de prisão, com direito a sursis. Recorreu e, em 1980, foi absolvido pelo STF.
Relembro esse fato ao assistir ao vídeo de Gregório Duvivier, em que ele fez uma incisiva e corajosa análise da ideologia dos generais brasileiros. Por muito menos, Lourenço Diaféria passou por maus momentos. Certo, estávamos em plena ditadura.
Agora, vivemos sob um governo que aspira sequestrar a democracia. Como reagirão os senhores generais? Manterão as aparências, como estão se esforçando nessa quadra histórica, ou terão uma recaída e pedirão o enquadramento de Duvivier na LSN? Prisão na lata já seria demais. Ou não?
Crônica de Lourenço Diaféria: https://www1.folha.uol.com.br/folha/80anos/tempos_cruciais-02a.shtml
Vídeo de Gregório Duvivier: