A letra e a espada

BLOGUE DE HOMERO FONSECA
2 min readAug 2, 2020

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O corajoso comentário “Ideologia de general”, de Gregório Duvivier, faz lembrar o episódio de 1977 com o escritor e jornalista Lourenço Diaféria.

O advogado Leonardo Frankenthal faz a defesa de Lourenço Diaféria numa das sessões de julgamento.

Lourenço Diaféria (1933–2008) foi um jornalista e escritor paulistano autor de uma crônica célebre, intitulada “Herói. Morto. Nós.”, publicada na Folha de SP em 1º de setembro de 1977.

O texto comentava o ato do sargento do Exército Sílvio Hollenbach, que pulou em um poço de ariranhas no zoológico de Brasília para salvar um menino. A criança se salvou, mas o militar morreu, atacado pelos simpáticos e ferozes animais. Diaféria considerou o sargento Sílvio um herói nacional e comparou-o, favoravelmente, ao Duque de Caxias, patrono do Exército, “um homem a cavalo reduzido a uma estátua”, cuja espada “oxidou-se no coração do povo”.

O Exército se sentiu ofendido, prendeu o jornalista e enquadrou-o na Lei de Segurança Nacional. Foi condenado pelo Superior Tribunal Militar a oito anos de prisão, com direito a sursis. Recorreu e, em 1980, foi absolvido pelo STF.

Relembro esse fato ao assistir ao vídeo de Gregório Duvivier, em que ele fez uma incisiva e corajosa análise da ideologia dos generais brasileiros. Por muito menos, Lourenço Diaféria passou por maus momentos. Certo, estávamos em plena ditadura.

Agora, vivemos sob um governo que aspira sequestrar a democracia. Como reagirão os senhores generais? Manterão as aparências, como estão se esforçando nessa quadra histórica, ou terão uma recaída e pedirão o enquadramento de Duvivier na LSN? Prisão na lata já seria demais. Ou não?

Crônica de Lourenço Diaféria: https://www1.folha.uol.com.br/folha/80anos/tempos_cruciais-02a.shtml

Vídeo de Gregório Duvivier:

https://www.youtube.com/watch?v=0Blu-03jwDk

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Jornalista e escritor. Só sei que nada sei (Sócrates), mas desconfio de muita coisa (Riobaldo Tatarana).

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