A decadência do nosso futebol
No futebol de mercado global bilionário, nossos jogadores são iguais aos produtos do agronegócio.
A lamentável campanha da Seleção Brasileira nas eliminatórias para a Copa de 2026 é um alerta vermelho. Desde 2002 não ganhamos um título e há muuuito tempo o Brasil deixou de ser o bicho-papão dos gramados. Os 7 x 1 aplicados pela Alemanha, em 2014, aqui em casa, são apenas a ponta do iceberg. O Brasil futebolístico está em franca decadência. Como em qualquer fenômeno complexo, são várias as causas.
O relatório da Fifa sobre transferências internacionais em 2023 traz pistas sobre isso. O mercado da bola movimentou 9,6 bilhões de dólares, um número recorde. O Brasil foi o líder em exportação: vendemos 1.217 atletas, num valor de 935,2 milhões de dólares (10% de todas as transações mundiais). O segundo lugar em vendas ficou com a Inglaterra (838 jogadores), seguida da Espanha, Portugal e outras potências. A Argentina perdeu 700 boleiros.
Peraí, dirão os apressadinhos: e por que a Inglaterra (segundo maior exportador de jogadores) não está também em decadência?
Pelo simples fato de ser, ao mesmo tempo, o maior comprador de atletas do mundo: gastou 2,9 bilhões de dólares, o mesmo valor da soma das importações de atletas pela Espanha, Portugal, França, Holanda, Itália e Brasil[1].
Vê-se, porém, que o Brasil também importa atletas. Porém, como se sabe, principalmente da América do Sul (em geral, menos famosos e presumivelmente mais baratos). De todo modo, é preciso cruzar mais dados de fontes diversas, inclusive qualitativos, para checar as pistas.
Nas listas de atletas vendidos para o exterior não raro estão jovens sub-17 (caso de Endrick). Essa hemorragia de talentos, salvo engano, torna o nosso um futebol anêmico.
Assim nossas competições vão perdendo qualidade a cada ano, excetuando alguns times ricos do Sul e Sudeste contados nos dedos das mãos. O futebol imita o agronegócio: exportamos o melhor que produzimos para o consumo dos ricos do Norte Global.
O fato é que hoje o futebol é um espetáculo global, movendo bilhões de dólares. E nada tem a ver com os heroicos tempos de Pelé, Garrincha & cia.
P.S. O relatório mostra que no futebol feminino os números são enormemente menores, mas estão crescendo. Mas isso é outra história.
Veja a matéria completa sobre o documento da Fifa no site da revista Piauí: https://piaui.folha.uol.com.br/brasil-uma-fabrica-de-exportar-jogadores-futebol-fifa/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_203&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
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[1]A fonte consultada não permitiu comparar os balanços de cada país (exportação x importação).